O alerta veio através de um grupo de WhatsApp. A turma havia comemorado 25 anos de formatura do ensino médio e agora todos trocavam fotos da festa pelo aplicativo. Carlos, que se formou em Medicina e se especializou em Cardiologia, não pode comparecer ao encontro da turma do colégio, pois estava de plantão. Mas algumas fotos postadas do amigo Bertoldo, que ele não via desde o jantar comemorativo dos 10 anos de formatura, lhe chamaram a atenção. Bertoldo tinha um aspecto muito diferente, sua fronte, nariz e queixo pareciam muito maiores do que antes.
Carlos mandou algumas mensagens diretamente ao amigo questionando sobre as mudanças na sua aparência. Bertoldo confirmou que tinha notado o rosto diferente e comentou que também percebeu crescimento das mãos, inclusive tendo que retirar a aliança de casamento que não lhe servia mais. Os pés também cresceram, e o sapato tamanho 40 deu lugar ao de número 42. O dentista havia comentado que seus dentes estavam se afastando demasiadamente uns dos outros. Mas Bertoldo creditou essas mudanças ao ganho de peso e ao inchaço que vinha apresentando de modo intermitente nos últimos anos, os quais ele relacionava com a idade, erros alimentares e inatividade física. Carlos logo percebeu que aquilo podia ser uma doença mais séria e recomendou que o amigo procurasse um Endocrinologista. E foi assim que Bertoldo descobriu que tinha acromegalia.
A acromegalia é uma doença causada pela produção excessiva de hormônio do crescimento (GH) quase sempre devido a um tumor benigno (adenoma) da glândula hipófise. Quando ocorre na infância ou adolescência, antes de terminar a fase de crescimento dos ossos longos, a criança cresce muito mais do que o normal e desenvolve gigantismo. Quando o adenoma surge na vida adulta, ocorre um crescimento das extremidades do corpo, como mãos, pés, queixo, fronte, nariz, boca e língua, e a doença recebe o nome de acromegalia [akron (extremidade) + mega (grande)]. Se não tratada, a acromegalia pode causar diabetes, pressão alta, além de comprometer a função cardiovascular e provocar deformidades ósseas e articulares muitas vezes irreversíveis. Entretanto, a combinação de cirurgia, medicamentos e radioterapia, permite que a grande maioria dos pacientes consiga controlar a produção hormonal excessiva e tenham uma vida longa e saudável, especialmente se a doença for descoberta precocemente.
O adenoma da hipófise de Bertoldo tinha 1,4 cm e foi retirado cirurgicamente. Ele teve uma boa melhora clínica, mas os exames de sangue ainda mostravam níveis hormonais elevados. Prescrevi tratamento complementar com medicamento, que levou a normalização dos seus níveis hormonais, que antes eram muito aumentados. Bertoldo decidiu fazer um agradecimento ao amigo Carlos no grupo da turma do WhatsApp. Na mensagem, Bertoldo descreveu a surpresa que sentiu ao ver seu corpo “desinchar” com o tratamento, e narrou um detalhe que causou grande comoção: após muitos anos ele havia conseguido abrir por conta própria uma embalagem de chiclete, coisa que não fazia há anos devido ao grande tamanho de suas mãos. Coisas aparentemente simples e desimportantes, que ganham grande relevância quando temos nossa saúde de volta.